terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Manuela Saraiva de Azevedo

Ontem, dia seguinte ao dia de eleições, dia de descanso para quem esteve a presidir a mesa de eleições, como eu, e para quem levou a sério esse desafio, foi dia merecido, pois confesso que cheguei a casa completamente derreada não só pelo dia de eleições como pelo frio que se fazia sentir, 8º. Irra que está frio a valer!


Durante a tarde, estive um pedaço de tempo a assistir a um programa na TV, em que a pessoa que estava a ser entrevistada em directo, era alguém de 99 anos de quem eu nunca tinha ouvido falar e que me prendeu a atenção desde que começou a falar e que quando terminou ... eu queria mais... Era uma pessoa com uma riqueza de vida e uma lucidez muito grandes...


Manuela Saraiva de Azevedo, nasceu em Lisboa a 31 de Agosto de 1911, é uma jornalista e escritora portuguesa.
Muito cedo foi, como toda a restante família, para Mangualde, devido a profissão de seu pai...
Foi com a leitura do jornal «O Século», do qual o seu pai era correspondente em Mangualde, que surgiu o seu interesse pelo jornalismo.
Saiu de Mangualde bem cedo e, em 1934 com 22 anos de idade - altura em que nem havia Sindicato dos Jornalistas - já trabalhava no jornal "República".
Tornou-se assim na primeira mulher jornalista em Portugal!
No ano de 1935 publica o livro de poemas, intitulado «Claridade», com prefácio de Aquilino Ribeiro.
Depois passou para o "Diário de Lisboa" e, mais tarde, para o "Diário de Notícias".
Manuela de Azevedo entrevistou personalidades como Calouste Gulbenkian, Ernest Hemingway, Evita Perón, Rudolf Nureyev e o ex-Rei Humberto de Itália, que se exilara em Portugal.
Para este feito, uma vez que o ex-Rei estava proibido de conceder entrevistas, entrou na Quinta da Piedade, em Sintra, onde o Rei vivia, como "criada"...

Além do trabalho como jornalista, escreveu e publicou dezenas de livros de poesia, contos, novelas, romance, crónicas, ensaios, biografias e peças de teatro.
Ao longo das últimas décadas fundou e dirigiu a Casa-Memória de Camões, em Constância, a Vila Poema do distrito de Santarém.
Quase com 100 anos, tem uma "força" forte numa aparência frágil, como referem suas primas que a ajudam diariamente na organização dos afazeres não só domésticos como intelectuais, uma vez que vive sozinha em Lisboa e que continua a escrever e a publicar, tendo em "mãos" um livro sobre o seu gato com quem "fala"- "Memórias do gato Silvestre" a publicar brevemente...
Em 2010 publicou "Os pobres de Cristo" e em 2009, publicou a sua auto biografia, intitulada "Memórias de uma mulher de letras", uma co-edição do Museu Nacional da Imprensa e das Edições Afrontamento. Foi lançado em 2009, na Fundação Mário Soares, em Lisboa.
Um livro com cerca de 200 páginas, está dividido em quatro capítulos:
"Nascimento e Infância", "No país da Juventude", "A la minute", "Ossos do Ofício" e "Para um Mundo Melhor".
São memórias que se desfiam sem parar. Falam de lugares, episódios históricos, andanças, figuras públicas, peripécias, ideias e sentimentos. Também fala de sonhos e paixões!

... Nasceu a 31 de Agosto de 1911, como recorda nas páginas iniciais da obra: "Naquela madrugada (...) pelas duas horas e vinte minutos, a D. Rosa parteira pendurava pelos pés uma menina que berrava o seu protesto por ter nascido, lançando para o ar um grito lancinante (...) Essa menina era eu"...
... E, como confessa no capítulo "Nascimento e infância" viveu uma infância feliz: "Viva, movimentada, influenciada pela criatividade de meu pai, na infância eu iria cimentar a força de viver e o optimismo que irão acompanhar-me a vida inteira"...
... No capítulo seguinte, "No país da juventude " - conhecemos a jovem mulher que escrevia abundantemente poemas e artigos para jornais da região de Mangualde, onde então vivia...Ao mesmo tempo, era professora e começava a 'alinhavar' os poemas que surgiriam no meu primeiro livro "Claridade", editado em 1935, com prefácio de Aquilino Ribeiro...Vim mais tarde para Lisboa, convidada para ser uma das jornalistas do "República", passando depois para a redacção do "Diário de Lisboa"...
... "Tenho saudades desse tempo da juventude, não pelo que fui ou vivi, mas pelo amor daqueles que perdi", refere Manuela de Azevedo...
... Seguiu para o "Diário de Notícias", onde trabalhou até aos 80 anos, especializando-se em reportagens e na crítica teatral...
... Depois do 25 de Abril de 1974, foi afastada do DN, tendo regressado, com o grupo dos 24 expulsos, após o 25 de Novembro de 1975...
Nos capítulos seguintes de Memória de uma Mulher de Letras - À la minute, Ossos do Ofício e Para um mundo melhor – Manuela de Azevedo conta-nos vários episódios da sua actividade jornalística ao longo de sete décadas. Recorda a censura, quando os seus textos passavam pelo lápis azul, como a peça de teatro "A Dona de Casa" que escreveu em conjunto com José Ribeiro dos Santos e que, no ensaio geral, foi censurada.
Humberto Delgado, Henrique Galvão, o ex-rei Humberto de Itália e Hemingway, entre muitas outras figuras do século XX, são algumas das personalidades que conheceu e cujas impressões relata nesta obra.

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